domingo, 11 de setembro de 2011

ESPIRITISMO E MEDIUNIDADE

Por Maria das Graças Cabral



Um dos grandes equívocos em torno do Espiritismo, é confundi-lo com mediunidade. Muito comumente, diz-se que alguém é espírita por ter essa pessoa a condição de ver e/ou ouvir espíritos. Este é um dos ‘equívocos’ que distorcem a Doutrina Espírita, e será objeto de análise e esclarecimento no presente artigo.

Primeiramente precisamos saber o que é ‘mediunidade‘. De acordo com O Livro dos Médiuns a mediunidade é o nome atribuído a uma capacidade humana que permite uma comunicação entre
homens e Espíritos. Ela se manifesta independente de religiões, de forma mais ou menos intensa em todos os indivíduos. Porém, usualmente apenas aqueles que apresentam num grau mais perceptível são chamados médiuns, segundo explicações de Allan Kardec em O Livro dos Médiuns.

Em seguida, oportuno considerar que quando se fala de mediunidade, obrigatoriamente tem-se que admitir de acordo com as especificidades de cada crença, a existência dos Espíritos, os quais se comunicam através dos chamados médiuns. Digo de acordo com as especificidades de cada crença, porque para alguns só os anjos e os santos se comunicam, para outros só os demônios se manifestam, para outros é Deus que se apresenta, e assim sucessivamente.

Diante de tal assertiva indagamos: - Existem Espíritos? - E Kardec (o maior estudioso do fenômeno mediúnico) nos responde afirmando que “a causa principal da dúvida sobre a existência dos Espíritos é a ignorância da sua verdadeira natureza. Imaginam-se os Espíritos como seres à parte da Criação, sem nenhuma prova da sua necessidade. Muitas pessoas só conhecem os Espíritos através das estórias fantasiosas que ouviram em crianças, mais ou menos como as que conhecem história pelos romances”. (...) “Seja qual for a idéia que se faça dos Espíritos, a crença na sua existência decorre necessariamente do fato de haver um princípio inteligente no Universo, além da matéria“. (LM. Cap. I, itens 1 e 2)

Em O Livro dos Espíritos, na questão 76, tem-se a definição de Espírito quando Kardec indaga: - Como podemos definir os Espíritos? Resposta: - Podemos dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Eles povoam o Universo, além do mundo material. Oportuno acrescentar que os Espíritos podem estar na condição de ‘encarnados’ (sob a veste do corpo físico) e ‘desencarnados’, depois da morte física.

Espíritos portanto, na visão Espírita, somos todos nós ao partirmos do plano físico; são os nossos familiares, os amigos ou os inimigos, que retornaram ao plano espiritual. Enfim, Espíritos são os seres humanos despojados da veste física, que levam como ‘bagagem’ para o plano espiritual suas qualidades e defeitos, felicidades ou dores, sabedoria ou ignorância, amor ou ódio, credos e convicções próprias.

É fato que a comunicação entre os dois planos da vida acontece independentemente de época, lugar, raça, cor, credo, cultura, por ser uma lei natural inerente à condição humana. À esse respeito Kardec elucida que “se a crença nos Espíritos e nas suas manifestações fosse uma concepção isolada, o produto de um sistema, poderia com certa razão ser suspeita de ilusória. Mas quem nos diria então porque ela se encontra tão viva entre todos os povos antigos e modernos, nos livros santos de todas as religiões conhecidas?” (LM. Cap. I, 1)

Observa-se que o fenômeno mediúnico atravessa o limiar dos tempos, desde que por exemplo, o Antigo Testamento relata a saga do povo hebreu narrando as aparições e diálogos com anjos, com profetas e reis já mortos - como também as manifestações violentas de Jeová,  quando castiga os inimigos do seu povo.

Já no Novo Testamento, os evangelistas narram situações em que Jesus expulsa demônios, conversa no monte Tabot com Moisés e Elias, já mortos - e depois da crucificação, aparece à Madalena, aos apóstolos, e deixa-se ser tocado por Tomé.

Da mesma forma as mais diversas religiões em seus livros sagrados relatam as experiências espirituais de seus líderes, quando recebem suas missões através de contatos mediúnicos com seres não mais pertencentes ao plano físico.

A realidade é óbvia quando nos mostra fartamente que católicos, protestantes, budistas, umbandistas, islâmicos, judeus, etc., têm a mesma condição de ver, ouvir, sonhar - com anjos, santos, profetas, demônios, orixás, etc., - interpretando, e adequando suas experiências mediúnicas aos seus preceitos religiosos e usando um linguajar próprio, como por exemplo: falar a língua dos anjos, ter visões, exorcizar demônios, descarrego, profetizar, curar pela imposição das mãos, baixar o santo, encorporar, entrar em estado de êxtase, etc, etc, etc.

Pode-se portanto constatar pela história dos povos com suas crenças e costumes, que a mediunidade não é privilégio de nenhuma religião em especial e nem de nenhum povo. O mediunismo portanto, não é sinônimo nem propriedade do Espiritismo, nem muito menos quem se diz médium é obrigatoriamente espírita.

Na realidade, a Doutrina Espírita, por ter um corpo doutrinário dedicado ao ‘Espírito imortal’ - a mediunidade é estudada e trabalhada, com o escopo de esclarecer e auxiliar o espírito humano diante de suas perplexidades ao se deparar com os dois planos da vida. Além de ser instrumento de amor e auxílio ao próximo, tendo por base o preceito de Jesus que diz: ”Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli os demônios; daí de graça o que de graça recebestes”. (Mateus, X, 8)

A esse respeito faz-se oportuno ressaltar que para os médiuns espíritas é sempre lembrado que “receberam de Deus um dom gratuito, que é o de serem intérpretes dos espíritos, para instruírem os homens, para lhes ensinarem o caminho do bem e levá-los à fé, e não para lhes venderem palavras que não lhes pertencem, pois que não se originam nas suas idéias, nem nas suas pesquisas, nem em qualquer outra espécie de seu trabalho pessoal.” (Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XXVI, item 7)

Ser espírita não é obrigatoriamente ser médium, entretanto ser médium espírita é ter uma missão de dedicação e amor aos irmãos em humanidade, encarnados e desencarnados. Ser médium espírita é trazer para sua vida como aprendizado as experiências felizes ou infelizes dos Espíritos que se comunicam por seu intermédio. O médium espírita, estudioso, educado e evangelizado é sabedor da responsabilidade e da grandiosidade do trabalho que advém da sua condição de intermediário dos dois planos da vida.

Portanto, não é pela mediunidade que se reconhece um espírita, mas como esclarece o Espírito de Erasto em O Evangelho Segundo o Espiritismo: “reconhece-se o espírita pelo ensino e a prática dos verdadeiros princípios da caridade; pela consolação que distribuírem aos aflitos; pelo amor que dedicarem ao próximo; pela sua abnegação e o seu altruísmo.” (Cap. XX, 4)






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